quinta-feira, 4 de abril de 2013

Palhaço


Uma missa como outra qualquer e lá, da primeira fileira de bancos, um menino encarava-me sorrindo, querendo brincar de esconde-esconde entre as pessoas e bancos que nos separavam. Esbocei também alegria em minha face e retribui a brincadeira. De repente, ouço o menino dizer para a mãe: - mãe olha o palhaço!

  Reconheceram-me! Descobriram quem sou?! Ei, mas espere! Aquele menino não estava menos feliz por saber que o palhaço de cara pintada era eu... fenomenal! Não há felicidade maior para o palhaço do que ser reconhecido como tal. É honroso ser palhaço, porque com alegria contagiamos a tristeza. Com nossa vida levamos vida em muitas situações de morte.

   E o palhaço, ah! O palhaço! É o homem que sabe rir de seus erros e por isso é feliz. Pouco antes de me maquiar, certa vez perguntou uma amiga: você não vai desenhar uma lágrima? Pensei o porquê e respondi que não gostava muito de desenhar lágrima, pelo que ela representava. Como réplica obtive da amiga o seguinte pensamento: todos temos um lado alegre e triste, a lágrima no palhaço representa também esse duplo sentimento, no entanto, ele sabe fazer rir mesmo quando está a chorar.
   E é bem isso mesmo! A tinta que cobre nosso rosto não é capaz de esconder o que vive nosso coração e por ser assim tão transparente é que fazemos rir... não nos escondemos atrás das tintas, pelo contrário, elas revelam o que temos de sagrado e profano dentro em nós, e essa mistura de acerto nos erros é o que arranca do público as mais espontâneas risadas.
  O palhaço é a criança no adulto, por isso, não é vergonha para nós sermos reconhecidos como palhaço, ao final de cada apresentação e espetáculo tiramos a maquiagem, como que se deixássemos de lado um lado de nós. E aí, mochila nas costas, partimos para nos aventurar na vida sem os aplausos e sorrisos, mas aprendendo com a vida escrevemos um novo roteiro e então, ao vestir novamente o ser palhaço, vemos que mesmo quando a plateia partiu, não estávamos sozinhos porque na solidão do picadeiro da vida aprendemos a crescer e a conviver conosco mesmo.

  O que mais me encanta em ser palhaço é saber que quando as cortinas do palco da vida se fecharem, lembrarão de mim, não com o nome que levo, nem pela vida que decidi abraçar, mas se lembrarão de mim como palhaço e onde virem um palhaço a fazer suas estripulias e piadas, lá lembrarão de um palhaço que conheceram... ainda que não me chamem mais pelo nome nem reconheçam quem sou, só o fato de olhar entre os bancos e ver as pessoas a dizerem: - mãe olha o palhaço! Isso me basta porque tenho a certeza que ando pelas ruas sem medo e vergonha de mostrar quem sou.
O palhaço

Um comentário:

  1. Alem de um ótimo palhaço, rsrsrs, vc tem o dom de tocar o coração das pessoas com suas palavras. Adoro ler os seus textos!!! Saudades. Coragem!!! =)

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