Uma missa como outra qualquer e lá, da primeira fileira de
bancos, um menino encarava-me sorrindo, querendo brincar de esconde-esconde
entre as pessoas e bancos que nos separavam. Esbocei também alegria em minha
face e retribui a brincadeira. De repente, ouço o menino dizer para a mãe: -
mãe olha o palhaço!
Reconheceram-me! Descobriram quem sou?! Ei, mas espere!
Aquele menino não estava menos feliz por saber que o palhaço de cara pintada
era eu... fenomenal! Não há felicidade maior para o palhaço do que ser
reconhecido como tal. É honroso ser palhaço, porque com alegria contagiamos a
tristeza. Com nossa vida levamos vida em muitas situações de morte.
E o palhaço, ah! O palhaço! É o homem que sabe rir de seus
erros e por isso é feliz. Pouco antes de me maquiar, certa vez perguntou uma
amiga: você não vai desenhar uma lágrima? Pensei o porquê e respondi que não
gostava muito de desenhar lágrima, pelo que ela representava. Como réplica
obtive da amiga o seguinte pensamento: todos temos um lado alegre e triste, a
lágrima no palhaço representa também esse duplo sentimento, no entanto, ele
sabe fazer rir mesmo quando está a chorar.
E é bem isso mesmo! A tinta que cobre nosso rosto não é
capaz de esconder o que vive nosso coração e por ser assim tão transparente é
que fazemos rir... não nos escondemos atrás das tintas, pelo contrário, elas
revelam o que temos de sagrado e profano dentro em nós, e essa mistura de
acerto nos erros é o que arranca do público as mais espontâneas risadas.
O palhaço é a criança no adulto, por isso, não é vergonha
para nós sermos reconhecidos como palhaço, ao final de cada apresentação e
espetáculo tiramos a maquiagem, como que se deixássemos de lado um lado de nós.
E aí, mochila nas costas, partimos para nos aventurar na vida sem os aplausos e
sorrisos, mas aprendendo com a vida escrevemos um novo roteiro e então, ao
vestir novamente o ser palhaço, vemos que mesmo quando a plateia partiu, não
estávamos sozinhos porque na solidão do picadeiro da vida aprendemos a crescer
e a conviver conosco mesmo.
O que mais me encanta em ser palhaço é saber que quando as
cortinas do palco da vida se fecharem, lembrarão de mim, não com o nome que
levo, nem pela vida que decidi abraçar, mas se lembrarão de mim como palhaço e
onde virem um palhaço a fazer suas estripulias e piadas, lá lembrarão de um
palhaço que conheceram... ainda que não me chamem mais pelo nome nem reconheçam
quem sou, só o fato de olhar entre os bancos e ver as pessoas a dizerem: - mãe
olha o palhaço! Isso me basta porque tenho a certeza que ando pelas ruas sem
medo e vergonha de mostrar quem sou.
O palhaço
Alem de um ótimo palhaço, rsrsrs, vc tem o dom de tocar o coração das pessoas com suas palavras. Adoro ler os seus textos!!! Saudades. Coragem!!! =)
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