Uma crítica à mídia e ao sistema educacional
Tirem as crianças da rua! Coloquem-nas atrás das grades!
Vamos! Corra! Ali, ali! É uma criança! Qual seu nome moleque? Vai diz! - Meu
nome é...- quantos anos? Vai, responde... quantos? dezesse... está preso em
nome da lei.
Foi se o tempo em que policia e ladrão era brincadeira de
criança. Agora a policia é de verdade e o ladrão é criança. Exagero! Você pode
pensar. Pois bem... pode ser, mas queria dar uma ironizada pra com humor
pensarmos tal questão.
Brincadeiras à parte... assustei-me com a pesquisa DataFolha
na qual 93% dos paulistanos são favoráveis à redução da maioridade penal; 6%
são contra e 1% são indecisos. Gosto de algumas certezas, nesse caso ficaria
entre os 93% ou entre os 6%.
Eu, nessa mania de ver a vida pelos seus contrários, optei
em ficar com os 6%, senão pela pouca quantidade, por uma questão lógica e
irônica: se a grande maioria está indo pra um lado e uma minoria para o outro,
então a minoria está vendo algo que a maioria ainda não conseguiu enxergar ou
está com antolhos que não lhes permite ver e refletir a sociedade a sua volta.
Além do mais, nas palavras de Nelson Rodrigues, “toda
unanimidade é burra”, não que os 93% sejam ignorantes, mas para não correr o
risco de dar unanimidade fico com os 6%, nunca fui entrevistado por nenhum
centro de pesquisa, mas sempre tive que me sentir incluído nas porcentagens.
Nem nisso, nesse país, a gente tem direito de escolha, só um paralelo, mas
nunca consegui entender os números de pesquisa.
Curiosidades a parte sigamos com a reflexão... sinto-me
privilegiado por estar com os 6%, agora, feito a escolha,coloco-me diante da
pergunta: por que eles são contra enquanto a grande maioria é a favor? Loucos?
Pobres? Menores infratores? Quem será que foram os entrevistados, em?!
Tal como Graciliano Ramos em ‘Angústia’, “ponho-me a vagabundear em pensamento...;” pensemos
melhor: talvez os 6% tenham lido Paulo Freire, em ‘Pedagogia do Oprimido’ e tenham entendido bem quando ele diz que
“não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação”, olhando assim,
vemos que toda a problemática da redução da maioridade penal se não é falsa, em
partes, falta com a verdade. Afinal, de concreto, fale-me, você! O que é que
vai mudar? Teremos os presídios ainda mais lotados, garotos de 16 tomando banho
de sol com os adultos; será uma escola do crime, onde os mais manjados
ensinarão os menores. Menores infratores? Não! Menor aprendiz, um caos! Ruas
mais tranquilas? Não acredito em papel Noel!
Aproveitando meu vagabundear no pensamento, arrisco dizer
que os 6% se não leram a ‘Pedagogia do
Oprimido’ pode ser que tenham lido a ‘Pedagogia
da Autonomia’, também de Paulo Freire, e descoberto ali que o método em
questão para penalizar (e penso eu que ao falar em penalizar se pense em
reeducar) não é tão eficaz e válido, uma vez que nos ensina o professor:
“inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o
aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o
ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo
aprendiz”.
Ainda com tão ilustre pensador, arrisco dizer que tal
método que os 93% aprovam não coloca em evidência uma das significativas
vantagens dos seres humanos, segundo Paulo Freire: a de “se terem tornado
capazes de ir mais além de seus condicionantes”; amiúde, a capacidade de
refletir e refletir além da imposição que lhe dão: cadeia neles!
Confesso que fiquei na dúvida ao começar a escrever esse
parágrafo. Escrever outro parágrafo requereria desenvolver mais uma ideia, e com
a educação que temos, textos maiores do que uma lauda já se tornam cansativos.
Destarte, permitam-me ainda mais um devaneio, na tentativa de responder ao por
que os 6% vão contra a redução da maioridade penal.
Pois bem! Pra fechar a reflexão e também as elucubrações das
minhas ideias diria ainda que os 6% eram ouvintes da boa música de nosso
compositor e escritor Chico Buarque. Não ouvem qualquer música com
estrofe-refrão, nem tampouco ouvem músicas que só contém onomatopeias e
cacofonias pejorativas.
Ah! Os 6% ouviram “Geni e o Zepelim”: a história de uma moça
sem chance na vida, prostituta “feita pra apanhar, boa de cuspir”, excluída por
todos, na cidade passa de meretriz à heroína quando chega no porto da cidade um
comandante tirano que tendo jurado à destruição aquela cidade, resolve mudar de
ideia se Geni com ele se deitar; a pobre moça ao ver tão arrogante e tão
poderoso (rico, “cheirando a cobre”) quer recusar pois prefere com os pobres se
deitar.
Mas a cidade inteira clama pra que ela se deite com ele e salve a
todos. E assim foi feito! Mas, mal o navio do comandante zarpou... a cidade não
a agradeceu, ao contrário a excluiu; afinal, ela era “feita pra apanhar e boa
de cuspir”. Não seriam nossos jovens, menores infratores, Genis de nossa sociedade
atual? Mais do que uma cela sala, ter uma oportunidade, talvez, seria a
solução...
Pode ser que os 6% tenham levado em consideração tudo isso
ao ir contra a redução da maioridade penal. Mas, no meu passear entre as ideias,
o que alcança seu ápice é imaginar um diálogo entre os 6% e os 93%. Para tanto,
encerro aqui fazendo um recorte da música “Apesar de você”, também do Chico Buarque,
imaginando que os 6% diz a todos quanto são favoráveis à redução da maioridade
penal: “Hoje você é quem manda, falou, tá falado; não tem discussão! Você que
inventou esse estado. Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o
perdão. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Eu pergunto à você onde vai
se esconder da enorme euforia?”
Por fim, nas palavras do poeta Sérgio Vaz: “não confunda
briga com luta. Briga tem hora pra acabar, e luta é pra vida inteira”, a favor
ou contra, a defesa de um ou de outro não é uma briga, mas sim uma luta pela
conscientização e dignidade de nossos jovens e adolescentes. Estejamos todos
empenhados, lutando por um Brasil melhor e consciente no qual nossos jovens são
capazes de se tornarem sujeitos de transformação na realidade em que vivem.
psquisinha fajuta essa do Datafolha, manipuladora, 93%? certeza...? com certeza entrevistaram apenas os tucanos... projeto esse vindo do PSDB, afinal vejam só... até um assalto sofreu a filha do vice-governador, interessante bem agora, quando se fala em deiminuição da maioridade penal... ainda bem que o carro era blindado. e a mídia... como disse esses dias um bispo que não me recordo agora seu nome, " estamos colhendo os frutos do que plantamos..." a corrupção, a degradação da família, o desrespeito as crianças e jovens que tem seus direitos negados, estamos assinando e legitimando a nossa incapacidade de criar nossos filhos, jovens e crianças que estão cada vez mais sendo vítimas do que verdadeiramente "bandido". Estamos tentando reparar um mal com outro maior.
ResponderExcluirCaro Robson, parabéns, pelo seu texto. Diante da citação:"Não encontro argumentos que me convençam de que a redução da maioridade penal vá reduzir a violência". Eu também fico com os 6%, ou melhor, eu sou parte dos 6%, que ler Paulo Freire e escuta Chico Buarque. Um grande abraçor fraterno!!!
ResponderExcluirAntonio Alves
esse projeto é anticonstitucional, não vai passar, muito me admira o governador Alckimin com a formação humana que tem apoiar essa ideia. parece que ele anda assistindo o Datena, e o Marcelo Resende.
Excluir"Caminhando e cantando e seguindo a cançao.." Seu texto me remeteu à esse 'quase' hino das minorias Robinho, e pra não dizer que não falei das flores, e o quanto eu te apoio nessa brilhante escolha...se é pra fazer apologia, que seja aos 6% (do qual compartilho a opinião). Talvez falte aos 93% enxergar que, NÓS punimos os criminosos que NÓS produzimos! Reduzir a maioridade penal e atirar jovens de 16 e 17 anos nas cadeias...amanhã reduziremos para 14 anos, depois para 12..e o problema persistirá...sabe porque? Porque atacamos as consequencias e não as causas do problema...Reza a lenda que na década de 70, construiam-se 3 escolas e 1 presídio, hoje, equação inversa...Nossa sociedade produziu violencia e degradação em massa, esqueceu-se de educação, cultura, oportunidades...Que perspectiva tem um jovem que em grande parte pertencem a familias sem qualquer tipo de estrutura, rodeados por um ambiente externo de pessoas preocupadas com o 'ter', e ele, ali sem o mínimo..Quais oportunidades o Estado e sociedade oferece a esse jovem?...nenhuma, mas o tráfico e demais influencias negativas, abrem às portas e este jovem, que depois rouba, mata, estupra, destroi...NÓS, sociedade e Estado nos omitimos, fechamos os olhos às causas, mas estamos prontos a "erradicar" o problema, reduzindo a maioridade penal, jogando crianças de 16 e 17 anos num sistema carcerário falho e superlotado, com marmanjos especilizados em qualquer tipo de crime...como vc bem disse Robinho, transformando-os em 'jovem aprendiz', de barbaridades...Que solução brilhante não...Talvez esses pequenos pontos, o Datena e as musicas chicletes não mostrem aos 93%...tá faltando cultura de roda moçada...
ResponderExcluirNão quero que isso seja interpretado também, como um passar de mão na cabeça desses jovens, alias acredito que o ECA deveria ser revisto, pois suas 'medidas socioeducativas" estão para esse jovens, assim como a ressocialização presidiaria esta para os condenados, sem eficácia alguma. Um jovem que faz atrocidades, passa 3 anos em "recuperação" e esta livre de culpa perante a sociedade, extingui-se sua punibilidade. Vejo que isso também não esta correto, agora lançar esses jovens nos presídios também não sera a solução. Espero que nossa "sábia" sociedade, pondere melhor sua opinião e se omita menos no dever social que a todos incumbe: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público, assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saude, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à lliberdade e à convivencia familiar e comunitária" (Art.4º - ECA). Rezo para que as pessoas parem de culpar os outros e deixam de estar tão mal influenciadas por jornalzinho sensacionalista..galera, do sofá de casa, não se resolve problema algum...e que nossos nobres represenantes também deixem de usar a mídia para alienar nossa sociedade, lembrem-se.."A mídia está para a democracia, assim como o cassetete está para a ditadura". Robinho, abraços meu amigo...Parabéns pelo texto (INCRÍVEL), Bjo na alma, coragem!!!
Depois de ter a possibilidade de ler este maravilhoso texto, sinto que recebi um tapa na cara, após compartilhar com seu pensamento Robinho.. antes porém, ao assistir várias reportagens onde menores são atores de grandes atrocidades em nosso país, mais especificamente em nosso estado ou até região municipal, acredite... após assistir algumas opiniões " Datenenses" , também fui capaz de fazer parte dos 93%, porém, após a leitura desse texto, decisivamente faço parte dos 6%.
ResponderExcluirHá alguns dias inconscientemente tive uma discussão com um colega de trabalho, onde ele dizia que as atrocidades acontecem pois neste país não tem leis severas onde pune os malfeitores e cruéis, eu dizia que:
Além das leis é preciso que haja um pacote de "coisas" associadas por exemplo, saúde, educação, politicas sociais, emprego e renda, etc...ou seja, direitos e deveres do cidadão, mas também, direitos e deveres do poder publico.
" como posso cobrar algo de quem não nada a oferecer"
Abraços fraternos,
Do amigo
Dionizio