Por muitas vezes me pego pensando: poxa! o mundo poderia ser melhor se grandes coisas acontecessem! Ou ainda: é preciso acontecer algo grandioso para que alguma coisa mude... Na verdade sempre pensamos assim, as vezes é difícil para nós valorizarmos as pequenas coisas.
Olhemos para os prédios, são belos, não são? Em sua grande maioria ‘monstruosos’. Todos se admiram ao ver um arranha céu. Esses dias eu passava por uma cidade, e vi muitos edifícios, por um instante me veio à mente: por que nos admiramos com os prédios? Talvez seja pela sua altura, até porque nosso desejo nos faz admirar aquilo que almejamos: quem um dia não sonhou em ser um (a) grande profissional, um grande homem, uma grande mulher?
Ainda mais no mundo em que vivemos, todos queremos ser pessoas realizadas, felizes, e por inúmeras vezes relacionamos felicidade com grandeza, riqueza material e espiritual. Tudo isso contribui, não sei, penso ser arriscado relacionar felicidade com grandeza ou riqueza; mas brincaria com as palavras, uma vez que a gramática nos permite, dizendo que: felicidade é sinônimo de simplicidade, e riqueza sinônimo de pequeno.
Pode ter parecido estranho aos seus olhos, mas é a mais pura verdade. Pare e pense por um instante, verá que um baú de tesouro só tem importância quando há ali dentro muitas moedas ou objetos de ouro. Felicidade não poderia significar grandeza, senão o sorriso de alguém perderia todo o seu valor, bem como não nos traria felicidade. Assim como cada moeda constitui a riqueza do baú, cada gesto, embora seja o mais simples, constitui, constrói, a nossa felicidade.
Voltando para os prédios, fica difícil olhar para eles sem que antes, tijolo por tijolo, porta por porta, estivesse em seu devido lugar...ao olhar para os prédios da cidade em que o ônibus apressadamente passava, vinha-me na mente e no coração: “ta vendo aquele edifício moço...eu ajudei a levantar”. Essa música, Cidadão, composta por Lúcio Barbosa, faz-me pensar: por trás de toda grande obra há algo que nem sempre notamos, mas que sem o qual aquilo que é magnífico não poderia acontecer e/ou ser.
Na história houve muitas pessoas que souberam valorizar muito bem esses pequenos momentos ou as coisas simples da vida, para que ela se tornasse grande. Poderia pegar muitos outros exemplos, mas seleciono um, para comentar brevemente, esse alguém é a pessoa de Jesus de Nazaré. Dos inúmeros momentos importantes de sua vida, e que mostram essa sua valorização dos pequenos momentos, escolho para refletirmos o que está relatado no capítulo seis do evangelho de João, nos versículos de cinco a treze (João 6, 5-13).
Notamos lá que muitas pessoas estavam acompanhando Jesus, afinal ele era um grande líder, é bem verdade que nem todos que compunham essa multidão o seguiam para aprender com ele, alguns só o acompanhavam para obterem os milagres e para saciarem a sua fome, nada mais, outros, o seguiam porque queriam fazer de suas vidas algo maior. Era pequeno demais aquilo que viviam, estavam presos a uma realidade, em termos filosóficos, meramente imanente, não transcendiam, ou seja, estavam presos às leis, ao ritualismo, não conseguiam fazer nada por amor, e quase sempre faziam porque essa era a lei, mas nem sempre sentiam aquilo que faziam.
Enfim, a multidão estava lá, e Jesus, um homem pobre, simples, resolve dar de comer para toda aquela gente. Ao lermos a passagem, vemos o ‘desespero’ de Filipe quando Jesus pergunta de onde iriam tirar a comida e Filipe responde: “Duzentos denários de pão não seriam suficientes para que cada um recebesse um pedaço’(Jo 6, 5), André traz um menino e diz: “Há aqui um menino, que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas o que é isso para tantas pessoas?”... Mas o que é isso para tantas pessoas?...
André, Filipe, os demais discípulos, eu, você, temos dificuldade em transformar aquilo que é pequeno em grandioso. A verdadeira arte não consiste em fazer coisas grandiosas, mas sim em transformar coisas pequenas em grandes coisas. Paremos por um instante e reflitamos: como será que André encontrou esse menino? Teria André perguntado entre a multidão: quem aqui possui algo para comer? Ou ainda, será que o menino, mesmo sem ninguém dizer nada resolve partilhar tudo aquilo que possuia?
Muitas situações, poderíamos trazer a mente neste momento, mas note, poderíamos exaltar a questão da partilha, mas vendo por um outro ângulo, notamos que do normal é que se faz acontecer o extraordinário, aquele menino foi lá, levou seus cinco pães, dois peixinhos, e enquanto todos os outros adultos talvez até riam dele, e duvidavam que seu gesto poderia ajudar em alguma coisa, Jesus toma aqueles cinco pães e dois peixinhos e dá de comer àquela multidão, fazendo até sobrar doze cestos cheios com o que sobrara da partilha.
Talvez, respondendo a algumas questões levantadas nesse texto, vale saber que, é olhando para a simplicidade das coisas que enxergamos sua grandeza. É valorizando os pequenos momentos que conseguiremos ver a riqueza e a beleza das coisas. Os prédios só são prédios porque alguém os construiu, nossa vida só é bela porque nós a construímos.
Querido Robson...
ResponderExcluirPerfeito...ótimo texto..
saudades..
Zé Duarte