quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Esperar sempre (final)

Você leu o texto Esperar sempre (parte 1)? então não deixe de ler essa continuação!Boa leitura!

Para iluminar esta reflexão escolhi um texto bíblico do primeiro livro de Samuel cap. 1 versículos de 9 a 20:

Depois que comeram e beberam, Ana se levantou. O sacerdote Eli estava sentado em sua cadeira, no limiar da porta do santuário de Iahweh. Na amargura de sua alma, ela orou a Iahweh e chorou muito. E fez um voto, dizendo: “Iahweh dos Exércitos, se quiseres dar atenção à humilhação de tua seva e te lembrares de mim, e não te esqueceres da tua serva e lhe deres um filho homem, então eu o consagrarei a Iahweh por todos os dias da sua vida, e a navalha não passará sobre sua cabeça.”
Como prolongasse sua oração a Iahweh, Eli observou a sua boca. Ana apenas murmurava: seus lábios se moviam, mas não se podia ouvir o que ela dizia, e por isso Eli jugou que ela estivesse embriagada. Então lhe disse Eli: “Até quando estarás embriagada? Livra-te do teu vinho!” Ana, porém, lhe respondeu assim: “Não meu senhor, eu sou uma mulher atribulada; não bebi vinho nem bebida forte: derramo minha alma perante Iaweh. Não julgues tua serva como uma vadia. É por excesso de sofrimento e de afrontas que tenho falado até agora.” Eli então lhe disse: “vá em paz, e que o Deus de Israel te conceda o que lhe pediste.” Respondeu-lhe ela: “ache a tua serva graça aos teus olhos.” E a mulher seguiu seu caminho; comeu e o seu aspecto não era mais o mesmo.
Levantaram-se bem cedo e, depois de se terem prostrado diante de Iahweh, voltaram à sua casa, em Ramá. Elcana conheceu sua mulher Ana, e Iahweh se lembrou dela. Ana concebeu e, no devido tempo, deu à luz um filho a quem chamou Samuel.

Ao nos depararmos com essa passagem nos vemos diante de uma mulher que não perdeu as esperanças, e não a perdeu porque apostou todas as fichas no Senhor, seu Deus. Conhecendo um pouco mais da história de Ana veremos que ela era uma mulher estéril, dentro de um contexto onde a mulher já era marginalizada por ser mulher quanto mais por ser estéril. Ela era casada com Elcana, que tinha mais uma mulher, Fenena, a qual era muito fértil.
Eles estavam indo para o templo de Iahweh fazer a oferta do sacrifício anual, e chegando lá, já cansada de ter sido ofendida, marginalizada, por se sentir excluída, Ana resolve derramar a sua alma na presença do Senhor. Elcana embora a amasse dava mais atenção à outra e Ana se sentia sem valor, humilhada por ser estéril.
A história de Ana se assemelha muito à nossa. Quero abordar aqui o termo estéril no seu sentido amplo, não apenas me referindo a mulheres que não podem ter filhos, mas sim, falando de muitas mulheres, homens, idosos e jovens que se tornaram estéril no longo de suas histórias, já não produzem mais vida. E por conta disso carregam o fardo da humilhação.
Infelizmente hoje muitas esposas já deixaram de trazer vida para suas casas, muitos maridos deixaram de trazer vida para seu relacionamento com a mulher e com os filhos. Muitos de nós, pelo cansaço, pela amargura de nosso coração, já não trazemos mais vida para o ambiente que trabalhamos, para o estudo, e assim em tantas outras áreas de nossa vida.
Quando não vivenciamos uma situação de vida perdemos nossa voz, somos humilhados como Ana, porque outros falam por nós, tiram nossa autonomia. Ana não agüentava mais aquela humilhação, e naquele dia no templo, na presença de Deus, resolveu colocar sua esperança, sua dor, sua aflição nas mãos do Senhor, confiou e Deus não a deixou desamparada, versículo 19:Iahweh se lembrou dela.
Interessante o paradoxo: havia duas mulheres uma estéril e a outra muito fértil, isso para mostrar que a gravidez de Ana não veio de algo carnal, mas sim brotou do desejo do coração de Deus de atender aquela serva que por ele clamava.
Ana tinha inúmeros motivos para se revoltar contra o Senhor, mas ao invés disso, resolveu entregar a ele a dor que sentia. E não teve vergonha de derramar sua alma na presença de Deus, fez uma oração em voz alta, crendo que ali, no templo, não representava a casa de Deus, mas sim, ela tinha a certeza, de que Deus morava naquele lugar e estava com ela naquele momento. Frente a frente, face a face; ainda que ela não pudesse ver era capaz de sentir a presença, sentir o carinho do Pai. Muitas vezes os olhos não conseguem enxergar a essência ao passo que o coração tem o poder de descrevê-la. Deus não nos ouve menos hoje. Ele continua a ouvir seus filhos, seus servos, tenhamos também a coragem de derramar nossa alma na presença do Senhor.

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