quarta-feira, 22 de junho de 2011

O giz e a lousa

Quem dera ao giz e à lousa poder ensinar sem que alguém os manipulasse. Nesses quase seis anos trabalhando com adolescentes e jovens, uma das maiores perguntas que chegam até mim, através deles é: porque filosofia é tão chato? Eis a resposta: porque seu professor não sabe ensinar filosofia!
Às vezes fico me perguntando: como pode um ser fazer três anos de faculdade, sobre um curso maravilhoso, que é a filosofia, e só aprender a destruir, de maneira equivocada, a fé das pessoas que o cerca. Seria isso a filosofia? Não.  Ela seria estéril se se resumisse em questionar a fé ou em trazer assuntos polêmicos apenas para que o professor mostrasse aos alunos que conhece mais do que eles.
Inocente professor! Seus alunos sabem mais do que você, porque enquanto se preocupa em instigá-los a dar respostas para questões fúteis, eles realizam perguntas muito mais profundas sobre a vida, sobre a existência de si e de sua relação consigo, com o outro e com o divino.
Um lembrete aos professores: seus alunos não têm culpa alguma de suas crises internas... Se sua experiência de vida é ruim deixe-os fazerem suas próprias experiências. Limite-se em ensinar filosofia e em filosofar, não em ficar jogando sobre seus alunos suas revoltas egoístas, para elas bastam uma boa atualização do pensamento.
Faria tanto bem uma filosofia bem ensinada. Os alunos teriam capacidade de crítica, iriam lutar pelos seus direitos, iram lutar por uma sociedade justa, fraterna. Quem dera se alguns professores de filosofia de hoje fossem como os de outrora, levantavam problemas que eram pertinentes e careciam de reflexão, quem dera se alguns alunos de hoje fossem como os de outrora, que questionavam, problematizavam, não tinham medo de perguntar ao professor. Mas hoje o aluno se vê incapaz de questionar o professor, porque o ‘prof’ já internalizou no aluno que ele é objeto e está ali não para questionar, mas para aprender. Aliás, a atitude de crítica e reflexão é tolhida ao ser humano desde pequeno, quando na idade dos porquês, vê suas questões tornarem-se motivo de bronca dos adultos.
Ora, não se aprende questionando? Então temos a solução, parafraseando as palavras do filósofo Marx: alunos, uni-vos! Questionem seus professores, interessem-se pelo assunto, investiguem, queiram saber. Não tenham medo de mostrar o que pensam, levem problemas para serem resolvidos nas aulas. Claro que aprendendo a argumentar corretamente e sempre respeitando o professor e os colegas, que também estão e devem estar buscando uma vida de maior reflexão e compreensão.
A filosofia não é algo apenas para quem a estuda, mas é algo para a vida de todos, todos fazemos filosofia a partir do momento que assumimos e realizamos atitudes filosóficas, o que é isso? É ser criança e perguntar o por quê? O quê? De tudo para assim, chegarmos às verdades nas respostas que tanto procuramos.
Professores de filosofia, não apenas questionem, mas ensinem caminhos para que seus alunos encontrem respostas... Atenção! Aponte caminhos, não o que você acha ser o certo, mas apresente-lhes todos os possíveis e deixe que eles façam uma reflexão própria e encontrem a verdade das coisas, desvelando a realidade a partir dos conceitos ensinados com o seu giz e sua lousa. Contudo, não se sintam ameaçados e nem desvalorizados, porque nós, infelizmente, por primeiro nos desvalorizamos, saibam que quanto mais vocês nos ensinarem a refletirmos e lutarmos por um mundo melhor, mais iremos construir um mundo belo pra nós e pra vocês.

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