Por Natália Xavier
Que
visão peculiar era aquela a qual estava sujeito? Tão familiar e tão
indefinível. Por que a imagem traduzida era tão distorcida? Escondido na gaveta
de sua cômoda, tão desgastada pelo tempo e pela umidade, encontrou seus óculos.
Nem fora capaz de recordar o quanto o ponteiro do relógio rodara sem que esses
lhe fossem necessários. Nas atuais circunstâncias tal objeto se tornara parte
do cotidiano. Era quase impossível enxergar sem eles.
Foto de Natália Xavier |
Nada!
Absolutamente nada, nem mesmo o pequeno objeto destinado ao fim de proporcionar
uma melhor visão, fora capaz de atingir seu objetivo. A imagem ainda estava
distorcida, meio embaçada, não obstante continuava-lhe familiar. Começou a
reconhecê-la, já tinha encontrado com ela algumas vezes. Não havia dúvidas: Ele
a conhecia. Todavia não era capaz de descrever o que estava diante dos seus
olhos, se tornara inexplicável. Quanto menor a distância entre si e a imagem,
maior a distância entre si e a compreensão do que aquilo representava. Era
evidente que enxergava mais, até porque, nesse trajeto de aproximação surgiam
elementos até então desconhecidos, até então nunca descobertos.
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Que
condição paradoxal! Quanto mais próximo da imagem, mais confuso ele ficava.
Como era difícil encará-la de frente! Não podia resistir à tamanha tentação.
Como era difícil compreendê-la! Talvez tal condição nunca chegasse a se
realizar. O que importa? Apesar de tudo, aquela imagem lhe trazia algo de
tranquilizante. Era como se ela o compreendesse e o conhecesse como ninguém.
Essa sensação lhe preenchia cada vazio da alma e levava-o a almejar sempre
mais. Precisava gozar da maneira mais plena possível a magnitude deste
encontro, já que era impossível prever quando teria tempo e coragem para
procurá-la e encará-la novamente.
De
súbito, foi dominado por uma covardia. Faltou-lhe forças para continuar. O
espelho foi deixado a sós.
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