domingo, 25 de novembro de 2012

Refleti(n)do


Por Natália Xavier
Que visão peculiar era aquela a qual estava sujeito? Tão familiar e tão indefinível. Por que a imagem traduzida era tão distorcida? Escondido na gaveta de sua cômoda, tão desgastada pelo tempo e pela umidade, encontrou seus óculos. Nem fora capaz de recordar o quanto o ponteiro do relógio rodara sem que esses lhe fossem necessários. Nas atuais circunstâncias tal objeto se tornara parte do cotidiano. Era quase impossível enxergar sem eles.

Foto de Natália Xavier
      Nada! Absolutamente nada, nem mesmo o pequeno objeto destinado ao fim de proporcionar uma melhor visão, fora capaz de atingir seu objetivo. A imagem ainda estava distorcida, meio embaçada, não obstante continuava-lhe familiar. Começou a reconhecê-la, já tinha encontrado com ela algumas vezes. Não havia dúvidas: Ele a conhecia. Todavia não era capaz de descrever o que estava diante dos seus olhos, se tornara inexplicável. Quanto menor a distância entre si e a imagem, maior a distância entre si e a compreensão do que aquilo representava. Era evidente que enxergava mais, até porque, nesse trajeto de aproximação surgiam elementos até então desconhecidos, até então nunca descobertos.
Foto de Natália Xavier
      Que condição paradoxal! Quanto mais próximo da imagem, mais confuso ele ficava. Como era difícil encará-la de frente! Não podia resistir à tamanha tentação. Como era difícil compreendê-la! Talvez tal condição nunca chegasse a se realizar. O que importa? Apesar de tudo, aquela imagem lhe trazia algo de tranquilizante. Era como se ela o compreendesse e o conhecesse como ninguém. Essa sensação lhe preenchia cada vazio da alma e levava-o a almejar sempre mais. Precisava gozar da maneira mais plena possível a magnitude deste encontro, já que era impossível prever quando teria tempo e coragem para procurá-la e encará-la novamente. 
      De súbito, foi dominado por uma covardia. Faltou-lhe forças para continuar. O espelho foi deixado a sós.

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