Era noite fria de inverno e lá estava o homem sentado à mesa
de um restaurante simples, não tanto quanto os trajes que vestiam o altivo
senhor. – boa noite, dissera-lhe a
garçonete, o que o senhor vai querer para hoje? – caldo de mandioquinha,
respondeu de pronto. Enquanto aguardava o pedido tinha olhar atento a tudo o
que o cercava.
Questionara-se por um instante: e se ainda amanhã não
acordar mais? Ora, por vezes nossa mente é capaz de fabular cada ideia! Acaso
era momento de se ter tais pensamentos? No entanto, o pobre homem quis fazer
filosofia em pleno restaurante. Pensava em alta voz: ‘por tiro, envenenamento,
suicídio, assassi...’ – Seu pedido senhor, sequenciou a garçonete, ao passo que
obteve por resposta um grito: - assassinato!
- Credo em cruz! - Emendou a moça que lhe servia o prato.
Com olhar desconfiado, depois de colocar o caldo à mesa perguntou: - o senhor
está bem? - O homem levantou um pouco mais a cabeça, como se tivesse autoridade
no que iria falar e balbuciou: - bem? Estou bem? - E então concluiu com voz
incisiva: - sim estou!
Ao degustar o prato fazia quase que num gesto ritualístico o
movimento de levar a colher à boca e olhar para o horizonte, fascinado com o
que via ao longe, olhando sabe Deus para que, mas via! Sim ele via: um menino
de boné, um casal de namorado que se acabavam em beijos demorados, uma criança
a correr e... de repente, o tal pensamento de morte misturado com o de fazer o
bem. Morte e justiça eram conceitos que lhe incomodavam rotineiramente.
Que fiz eu da vida caso venha a morrer amanhã? Pensava.
Estagnado, com olhar fixo em um ‘onde’ qualquer, avistou ao longe uma mulher
que trazia nos braços uma frágil criança e então, mais uma vez se rendeu aos
devaneios da mente, como se voltasse ao seio materno...
Um silêncio... um vazio... vida! Choro aos prantos,
beeeeerros! Vida! A única vida que agora rompe o véu do aconchegante e
conhecido para adentrar no incerto, no profano, no sagrado... que na verdade
não se sabe bem o que é, no entanto, tem um nome: MUNDO.
Reconhecer seu espaço nessa novidade que se dá no nascimento
é uma busca constante, da mais tenra idade até o morrer, do ser humano. E o que
você quer ser quando crescer? Perguntou curioso e com certa ansiedade alguém,
alguma vez, para aquele homem. Diante de tal pergunta nossa mente se torna
palco das mais diversas elucubrações. Quando crescer? Não sei, quando cresço?
Aquele turbilhão de ideias foi dando espaço para a
compreensão. E voltando em si, na mesa de restaurante e no caldo de mandioquinha
concluía o homem que na eterna busca por um lugar, por um sentido de vida,
somos sempre menino, sempre criança. E daí se não cresço? Pouco importa crescer
ou não, vale mesmo é ser menino, criança, ter a coragem de romper com o
protocolo da história e recriar, e aprender a aprender.
E aí... quando se aprende isso, se aprendeu tudo para
aproveitar a vida. Não haverá mais morte porque a vida vivida intensamente faz
com que até os que morrem continuem vivos, animando e encorajando, de certa
forma, aqueles que morreram para a vida por medo de não viverem até se
encontrarem com a morte.
Adorei =)Robs escritor...rsrs
ResponderExcluirMuito bom. Refleti muito com o ultimo acontecimento "Boate- Santa Maria", a gente fica pensando assim mesmo... e se ainda amanhã não acordar mais?
ResponderExcluirA gente aprende a dar valor no hoje e viver a cada dia como se fosse o ultimo!!
PARABENS!!
Muito boom mesmo, Primo ! _Laís...
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