segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Será possível?


Era noite fria de inverno e lá estava o homem sentado à mesa de um restaurante simples, não tanto quanto os trajes que vestiam o altivo senhor.  – boa noite, dissera-lhe a garçonete, o que o senhor vai querer para hoje? – caldo de mandioquinha, respondeu de pronto. Enquanto aguardava o pedido tinha olhar atento a tudo o que o cercava.

  Questionara-se por um instante: e se ainda amanhã não acordar mais? Ora, por vezes nossa mente é capaz de fabular cada ideia! Acaso era momento de se ter tais pensamentos? No entanto, o pobre homem quis fazer filosofia em pleno restaurante. Pensava em alta voz: ‘por tiro, envenenamento, suicídio, assassi...’ – Seu pedido senhor, sequenciou a garçonete, ao passo que obteve por resposta um grito: - assassinato!
  - Credo em cruz! - Emendou a moça que lhe servia o prato. Com olhar desconfiado, depois de colocar o caldo à mesa perguntou: - o senhor está bem? - O homem levantou um pouco mais a cabeça, como se tivesse autoridade no que iria falar e balbuciou: - bem? Estou bem? - E então concluiu com voz incisiva: - sim estou!
  Ao degustar o prato fazia quase que num gesto ritualístico o movimento de levar a colher à boca e olhar para o horizonte, fascinado com o que via ao longe, olhando sabe Deus para que, mas via! Sim ele via: um menino de boné, um casal de namorado que se acabavam em beijos demorados, uma criança a correr e... de repente, o tal pensamento de morte misturado com o de fazer o bem. Morte e justiça eram conceitos que lhe incomodavam rotineiramente.
  Que fiz eu da vida caso venha a morrer amanhã? Pensava. Estagnado, com olhar fixo em um ‘onde’ qualquer, avistou ao longe uma mulher que trazia nos braços uma frágil criança e então, mais uma vez se rendeu aos devaneios da mente, como se voltasse ao seio materno...
  Um silêncio... um vazio... vida! Choro aos prantos, beeeeerros! Vida! A única vida que agora rompe o véu do aconchegante e conhecido para adentrar no incerto, no profano, no sagrado... que na verdade não se sabe bem o que é, no entanto, tem um nome: MUNDO.
  Reconhecer seu espaço nessa novidade que se dá no nascimento é uma busca constante, da mais tenra idade até o morrer, do ser humano. E o que você quer ser quando crescer? Perguntou curioso e com certa ansiedade alguém, alguma vez, para aquele homem. Diante de tal pergunta nossa mente se torna palco das mais diversas elucubrações. Quando crescer? Não sei, quando cresço?
  Aquele turbilhão de ideias foi dando espaço para a compreensão. E voltando em si, na mesa de restaurante e no caldo de mandioquinha concluía o homem que na eterna busca por um lugar, por um sentido de vida, somos sempre menino, sempre criança. E daí se não cresço? Pouco importa crescer ou não, vale mesmo é ser menino, criança, ter a coragem de romper com o protocolo da história e recriar, e aprender a aprender.
  E aí... quando se aprende isso, se aprendeu tudo para aproveitar a vida. Não haverá mais morte porque a vida vivida intensamente faz com que até os que morrem continuem vivos, animando e encorajando, de certa forma, aqueles que morreram para a vida por medo de não viverem até se encontrarem com a morte. 

3 comentários:

  1. Adorei =)Robs escritor...rsrs

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  2. Muito bom. Refleti muito com o ultimo acontecimento "Boate- Santa Maria", a gente fica pensando assim mesmo... e se ainda amanhã não acordar mais?
    A gente aprende a dar valor no hoje e viver a cada dia como se fosse o ultimo!!
    PARABENS!!

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  3. Muito boom mesmo, Primo ! _Laís...

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