sexta-feira, 27 de abril de 2012

Encontro com Drummond


Acredite você, respectivo leitor, que esta noite tive um encontro com Carlos Drummond de Andrade. Isso, aquele mesmo, mineiro que tanto fizera nosso Brasil ser grande não apenas pela geografia, mas pelos belos poemas e crônicas que nele existem.

Andava eu por uma rua de tijolos, era fim de tarde... a neblina já cobria grande parte da paisagem, o frio já era intenso...mas eis que ali, no banco de madeira estava sentado tão ilustre personagem: Carlos Drummond de Andrade.

O reconheci, mas como já morrera há algum tempo pensei ter visto ali um sósia... ou seria ele mesmo? Teria eu morrido? – Nossos olhares se cruzaram e ele me chamou pelo nome, pensei: “E agora José?”.

Aproximei-me receoso e ele me disse: - Fiquei sabendo daqui que esteve em companhia de meus livros por esses dias... pensei estar louco ou então morto. Respondi: - se o Senhor for Drummond estive sim. E então a réplica: que bom saber que ainda lêem meus escritos por lá.

- Por lá?... por lá?... desculpe-me a pergunta, e não a faço por me sentir mau acompanhado, mas se fala de lá, onde estamos? - No céu! - respondeu-me tranquilamente Drummond. Fiquei pasmo e perguntei: o que fazes aqui? Respondeu-me ele: - Todos aqueles que escreveram sobre amor e acreditaram que ele existia estão andando por essas bandas. Somos muitos poetas: Cecilia Meireles, Vinicius de Morais, Cora Coralina, Machado de Assis, João Guimarães Rosa, Olavo Bilac... entre tantos outros - insistia o ilustre poeta.

Que loucura! – há café por aqui? Perguntei ainda meio que pensando em tudo que ele me dissera; ao passo que tive a resposta: - sim, mas indico que tomes o chocolate quente que fazem aqui, verás que divino! Assim, fomos nos levantando e nos colocamos a caminhar.

Ele com as mãos para trás dava passos lentos parecendo pensar na vida e eu o acompanhava tentando entender o que estava a acontecer... depois de um silêncio ensurdecedor fiz uma intervenção: - Muitos ainda lêem suas obras lá no Brasil, é bem verdade que hoje ele, o Brasil, se divide em três grupos: os amantes da literatura, os que nada lêem, e os que querem passar no vestibular, então são obrigados a ler. Na sua grande maioria preferem romances e temas fantasiosos, contos estrangeiros, do que nossa boa e velha literatura brasileira. Acho que sou meio patriota às vezes.

Ele olhou para mim, esboçou um sorriso e disse: - nada melhor do que comer daquilo que nossa terra dá. Respondi: - pois é, também penso assim. Acontece que muitos hoje já não se encantam mais com os contos de outrora... preferem soluções rápidas para suas vidas, querem aprender a liderar e se relacionar com as pessoas, como se os contos e poemas de nossa literatura não oferecessem isso. Acredite o senhor, caro Drummond, que esses dias eu estava para viajar e entrei na livraria da rodoviária, logo na entrada vi livros enormes e livros médios com títulos assim: “aprenda a lidar com pessoas difíceis”; “Seja feliz em dez dias”; “Verás que um filho teu não foge a luta. História do MMA”... pensei: “Nossa, onde estão nossos bons e amigos poetas e cronistas da língua brasileira?” Depois de muito procurar encontrei-os lááááááá no cantinho, em publicações de bolso.

Disse-me ele: - é uma pena não ocupar mais a vitrine das bancas. Respondi: - ... hoje vale mais uma solução rápida do que uma bela história. Mal terminei a frase e fui interrompido: - chegamos!

Entramos na lanchonete, ele pediu o chocolate quente e me disse aquilo que já escreveu em seus livros: de tudo “não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor”.

De repente, percebi que ele foi desaparecendo de minha frente, sua imagem bem como tudo a minha volta se envolvia na neblina... começou a tocar uma música bonita do Chico Buarque, aquela que diz assim: “Amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita...” e a visão foi sumindo, a audição ficando mais forte... olhos abertos, pisquei... vejo tudo branco acima de mim... estou no céu? Olhei para o lado, vi minha mesa e meu computador... estou no meu quarto, pensei. A música não parava de tocar... era o celular despertando... hora de levantar... foi um sonho? Sim um sonho. Um belo e feliz sonho!

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