Era noite de junho, o frio
era incontestável, aqueles de partir os lábios. Ele se arrumava para a festa;
ela, sem saber se produzia para seduzir e conquistar na vida um amado. Ambos de
locais diferentes, cada um de sua casa, partiram para a festa de São João.
Ela com amigas; ele
sozinho, menino puro, novo e inocente... via ali mais uma festa de São João.
Quentão... pipoca... vinho quente... milho cozido, passado na manteiga,
huuuuuum... É! A festa estava boa, bem frio, uma boa música divertia a todos
por ali, mas... algo faltava para ele... talvez, o que lhe faltara era
encontrar-se em meio a multidão.. sentia-se só o pobre rapaz.
Ela, nem sequer o notou
chegar, talvez o tenha visto, mas era mais um que vinha para a festa. Ela tinha
como preocupação e distração suas amigas e as crianças que iam brincar na
barraca de pesca, na qual ela estava a trabalhar.
Como barata a procurar uma
direção, o jovem solitário saiu de dentro do salão, talvez se cansara de ver os
casais dançando juntos, as músicas de arrasta pé somadas àquelas meloooooosas,
mas boas e antigas músicas sertanejas... enquanto saia resolveu passar pela
barraca de milho verde, e enquanto a senhora escolhia uma boa espiga, ele, de
relance, olhou para as barracas das brincadeiras e algo o chamou atenção... era
ela, a moça, a bela... sua amada! Ainda que assim não a vira e nem tampouco a
conhecera, no entanto, a beleza de tal jovem o atraia.
- Sal ou manteiga?-
interrogava a tia do milho... sem obter resposta, afinal seu interlocutor estava
contemplando tamanha beleza, tornou a dizer a senhora: - moço, seu milho! – ah,
sim! Obrigado!- respondeu rapidamente virando o rosto numa fração de segundo,
agarrando o milho e entregando a ficha; tudo muito rápido, pois queria tornar a
ver aquela moça, como se quisesse confirmar que ela existia mesmo.
Muito às pressas passou
manteiga no milho e saiu comendo-o vagarosamente... boca no milho e olhos na
moça... não podia dar muito “na cara”, como dizem por aí, então, encontrou um
pilar no qual ficara escondido, mas podia notá-la brincando com as amigas e com
as crianças. Preferiu ficar escondido, em meio a tantas pessoas uma lhe chamara
a atenção, por que ela? Por que naquela noite? Por que durara para sempre? Não
se sabe, são mistérios do coração.
Sabe-se que os olhos sempre
encontram aquilo que o coração procura. Naquela noite não foi diferente. Os
olhos dele encontraram um descanso para a solidão e para a inquietude do peito.
Seria ela?... seria ela?... o par, a metade... o ponto de encontro daquele que
estava perdido.
Pode ser que seria, mas era
cedo para tais conclusões. Resolveu fazer com que ela percebesse sua presença,
conseguiu! Depois de muito olhar percebeu que, por sorte, uma das amigas dela
era conhecida sua. Pensou: “Valei-me meu santo Antônio!”. Seguiu até a barraca,
moço querido por muita gente dali não demorou em ser correspondido nos
cumprimentos, isso lhe fizera se sentir menos só. Dando um “oi” para cada
pessoa da barraca foi beijando uma a uma no rosto, nos homens era apenas um
aperto de mão e uma batidinha no peito seguida das palavras: - e aí, tudo bem?.
Via que se aproximava a
hora de beijar a face daquela que por minutos admirou... o coração acelerava,
suavam-lhe as mãos... e enfim, chegou! O beijo e a saudação foram iguais ao que
fizera com os demais, no entanto, aqueles segundos foram para ele uma
eternidade. Como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta... bem de – va –
ga - ri- nho...
Embora se sentisse sozinho,
era muito bom de conversa, lia muito, gostava de falar, contava causos como
ninguém. Para ele não foi difícil se manter ali, bem como para eles não foi
sacrifício algum tê-lo por perto. Logo conquistara o coração de todos, menos o
dela.
Entreolhavam-se... no
começo de maneira rápida, depois demoravam mais os olhares de um para com o
outro, mas faziam sem que os demais percebessem. Ela, uma hora ou outra deixava
escapar um sorriso das trapalhadas que ele dizia, parecia ter notado que os
olhares dele tinham alguma intenção, diziam-lhe algo, mas ela se fazia não
entender.
O tempo ia passando e
levava consigo as chances dele conquistá-la, nada fazia com que ela cedesse,
mas ele já estava apaixonado. De repente, ele caiu em si: “a música parou... a
festa acabou?” Infelizmente o que pensara acontecera. E acho que aqui cabe bem
uma frase que ouvi de um amigo: “tudo que é bom dura o tempo necessário para se
tornar inesquecível”. E foi. Mesmo ela não lhe dando a menor chance, o fato de
terem trocado olhares e dela ter esboçado um sorriso, fazia dele a pessoa mais
feliz daquela noite de São João.
No entanto, chegara a hora
da despedida... ela ia embora e ele talvez não a visse mais. O mesmo ritual do
“oi” aconteceu com o “tchau”, com algumas palavras trocadas, é claro.
A despedida lhe trouxe
novamente o sentimento de solidão, de vazio e às vezes isso acontece mesmo: a despedida
nos trás um sentimento de vazio, é como se algo faltasse ao seu lado. É como se
parte dele, e parte importante, ficasse com aquela que acabara de se despedir.
Tomou também ele seu rumo,
abriu o portão de casa, entrou, caminhou até seu quarto, para ele, a partir
daquele dia, as festas de São João e os meses de junho já não eram mais
marcados por pipoca e milho cozido com manteiga, mas sim, representavam a época
em que se sentira amado, ainda que não correspondido. Pensando essas coisas o
amante adormeceu.
Nossa que linda história! Triste, mas feliz! rs
ResponderExcluirMuito bom Robson! Parabéns!!
Gisele.
Muito obrigado, Gi! É um pouco da vida... estão vindo algumas menos tristes por aí hehe... mas pense que talvez o amante adormeceu e pode ter encontrado um outro amor, pode ter também ter se sentido amado e correspondido na nova manhã rs... Coragem!
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