terça-feira, 8 de maio de 2012

A menina e o tempo

         Ela era criança, tinha muito da vida pra aprender e estava ali, na plataforma, parada, de braços abertos e contava: trêêês... doooooois... uuuuuum... Eu, na minha ignorância adulta, me virei, embora a voz fosse de criança não é sempre que se escuta uma contagem regressiva, resolvi ver o que era e era ela: menina de cabelos esvoaçantes, roupa simples, calça vermelha e camiseta branca, na certa não tinha mais do que seis anos.

      Uuuuum... como um disparo ela correu pros braços do pai que olhava fixo no horizonte, ele parecia não estar ali, mas não negara abrir os braços para receber aquela que suponho ser sua filha. Descrevi bem a menina, permita-me dizer de seu pai: homem também simples, calça jeans, uma blusa fina de frio, na cor marrom, olhar baixo, como quem estava triste, mas talvez fosse de cansaço ou por ter perdido alguém, e era o que parecia, aquela menina pode ser que fosse a única pessoa que lhe restara.
      Depois de um impulso, o pulo, não foi muito alto, mas confesso que pelo barulho que a menina fez e pela arcada que deu eu jurava que ela iria passar do teto daquela rodoviária. As vezes vale tomar grandes impulsos, ainda que pulemos baixo, valeu a tentativa e o gosto de pensarmos ser possível voar. Com o pulo viera o abraço... cena magnífica! como se a filha fosse feita para se encaixar de maneira perfeita no colo daquele pai.
      Ela com a cabeça erguida, ele com o olhar nos olhos dela, beijou-a na testa, sorriu e disse: - que tempo... Ela o interrompeu e perguntou em tom alto, mas não como se gritasse, como se fosse uma criança feliz a perguntar: - o que é o tempo? e ainda quase que antes de acabar a primeira pergunta emendou: - minha professora ‘falô’ que o tempo é uma escola. Neste instante o silêncio roubara a cena. Olhei para o pai, olhei a criança em seu colo, tomei de caneta e papel e sentei na primeira carteira para aprender mais aquela lição da vida.
       O pai novamente voltou seus olhos para o horizonte, soltou uma das mãos das costas da menina, coçou a cabeça, uma lágrima rolou, mas sem deixar que ela percebesse a enxugou rapidamente voltou seu olhar para aquele ser pequenino e disse: O tempo?... O tempo é isso mesmo: essa escola onde nos distanciamos, perdemos, ganhamos, choramos e rimos, isso é o que faz com que possamos dizer: eu aprendi.
      Meu ônibus chegara e tive que às pressas partir, no entanto, levei comigo a lição da menina e sua pergunta sobre o tempo. E é bem verdade o que dissera aquele pai. O tempo é uma escola na qual aprendemos a “voar” como a menina, mas também aprendemos a contemplar o horizonte como o pai, e olhar para o horizonte é saber o que passou, ter consciência de onde está, mas já sabe qual é a meta, onde quer chegar. Olhemos ao longe e corramos ao encontro de nossos sonhos porque “o tempo não para”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário