quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Câmara dos Vereadores e se Paulo Freire voltasse

Há tempos a câmara municipal do Jahu vem sendo palco de protestos. Não só nesta cidade, como inúmeras outras de nosso País que cansou de ser 'violentada' por governantes inescrupulosos que ferem com a dignidade e liberdade humana através de suas ações autoritárias e, muitas vezes, sujas.
Imagem de 'camarajau'
O estopim de toda revolta atual na cidade do Jahu foi o aumento em 40% do IPTU. O povo cansado de ser explorado, por esse Brasil a fora, foi pra rua, em Jahu foi à Câmara, casa do povo por excelência, para reivindicar seus direitos de cidadão. E muito se pergunta entre os vereadores (e poderíamos dizer deputados, governadores...) daquela casa (e dos muitos outros espaços políticos de nosso País): o que esse povinho quer? Nem eles sabem o que querem...
O povo quer dignidade. Quer ser valorizado, cansou de ser oprimido, cansou de não ser ouvido, de não ser levado a sério. O cinismo de alguns políticos é a arma que minimiza e dizima toda e qualquer reivindicação: conheço bem desse povo, faz cara de paisagem, sorriem, nos cumprimentam, como se o que estivéssemos falando fosse um elogio para eles. E depois, vão às mídias e dizem que nossa voz é fraca, que não representamos a população porque somos vagabundos. São tiranos, que riem diante da indignação de um povo que sofre por ser explorado em seu capital e estuprado em suas consciência/liberdade.

E isso não é papo de ativista revolucionário, não é papo de ativista de esquerda, isso é papo de humanidade, de dignidade humana. Nos ensina Paulo Freire em seu livro ‘Pedagogia do Oprimido’ que “o que interessa ao poder opressor é enfraquecer os oprimidos mais do que já estão, ilhando-os, criando e aprofundando cisões entre eles, através de uma gama variada de métodos e processos.”

Com base em Paulo Freire podemos nos questionar: a forma de governar de muitos dos nossos representantes é  opressora? Olhando assim, penso ser possível afirmar que medidas como: controle de público para as sessões, retirada da tribuna cidadã (espaço no qual a tribuna fica livre para o cidadão falar), entre outras medidas que distanciam o povo dos seus governantes e de suas decisões dão provas de que esse modo de governar fere a liberdade das pessoas de bem. Liberdade esta que não é libertinagem, e que nem tem indícios de uma anarquia, a única coisa que querem é uma política justa.

De Platão, passando por Aristóteles aprendemos que a virtude de uma figura pública consiste na edificação do bem comum e na justa medida. O problema é que por vezes se leva tudo pelo pessoal e se busca o bem próprio e a justiça que a mim e meus projetos legitima e convém.

Aprendemos ainda com Paulo Freire na ‘Pedagogia do Oprimido’: “como posso dialogar, se me sinto participante de um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são ‘essa gente’, ou são ‘nativos inferiores’?” É preciso descer dos pedestais que a carreira política os fez alcançar. O povo não quer bagunça, o povo não quer violência: quer justiça!

Para que ela aconteça é preciso mudar o modo de governo, é necessário que saiam de um governo opressor e migrem para um “governo libertador”, no qual compreende o cidadão/ cidadã a partir de sua realidade concreta, um governo assim é capaz de, com suas medidas, dar condição ao povo de ascender na vida. 

É muito fácil chamar de arruaceiro, fariseu, vagabundo e desocupado aqueles que protestam, mas é preciso que os senhores se questionem: “como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?” (Paulo FREIRE em Pedagogia do Oprimido).

E os manifestantes não podem parar, não podem se intimidar diante das medidas antidialógicas de um governo opressor: “Não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação”, esta frase de Paulo Freire cabe tanto a manifestante quanto aos políticos que estão a favor do povo: a denúncia, seja ela da tribuna, seja ela do saguão da prefeitura, precisa ser expressa numa transformação da realidade atual, caso contrário são palavras sem rumo. Por isso o movimento por uma política mais justa não pode parar.
No livro ‘Pedagogia da autonomia’ lemos de Paulo Freire: “mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um ‘não-eu’ se reconhece como ‘si própria’”, todo ato político antes de ferir ou beneficiar o povo fere ou beneficia aqueles que o representa. Por isso a luta do povo é válida pela melhoria de seus governantes, assim como a luta dos governantes deveria ser válida pela valorização e condição de melhoria na vida de seu povo.

2 comentários:

  1. Ah se aí está desse jeito dê uma olhadinha na lista de compras do Presidente Renan Calheiros... coisa pouca, uma mísera comprinha, 17 toneladas entre alimentos e outros gêneros. O total 18 mil reais, "ainda bem que nóis é pobre".

    ResponderExcluir
  2. O problema todo é que parece sinceramente que os politicos antigos tinham mais senso de humanismo e respeito a ética, roubavam menos, com o passar do tempo eles estão se tornando cada vez mais insensiveis, e egoistas talves tenham sido um subproduto originado pela sociedade consumista e materialista moderna!

    ResponderExcluir