O presente inusitado

Era dia de festa; todos queriam abraça-la, beijá-la... dizer que amavam, desejar felicidades..Parabéns! Sucesso! Todos tinham uma palavra de incentivo, todos tinham uma palavra de estímulo, mas ela? Ela não estava para palavras...estava para o silêncio. Já dizia alguém que o silêncio fala mais que palavras e era esta verborreia silenciosa que ela buscava naquele dia de seu aniversário.

E ali no seu modo inquieto de ficar quieta só procurava um segundo para estar consigo mesma; estar com o silêncio (re)confortante. Não precisava muito, não queria muito, nem muitos...queria e buscava a si mesma. Não queria ganhar presentes, mas queria se dar um presente.

Com o que se presentear? Ah! Feliz quem aprendeu a gostar do silêncio...por vezes ele é o único capaz de ser presente agradável nos presentes da vida que nos recordam passados saudosos e nos apontam futuros incertos...e era esse o presente que ela queria se dar.

Sem luxo, sem pompas; queria ouvir o mar, ir longe sem sair de onde estava, queria silenciar fora, para gritar por dentro.

A agitação era muita! Muita gente, muitas palavras externas que abafavam os gritos silenciosos do interno. E assim, como quem busca estar no lugar ideal para presentear quem ama saiu ela pelas ruas...

Enfim, encontrou o que buscava! E lá, no canto, na mesinha daquela lanchonete de esquina encontrou o lugar perfeito, encontrou o ninho para chocar suas ideias, para alimentar os filhotes que a mente não parava de parir.

Um café, um pão de queijo, um livro na mão. Enquanto seus olhos corriam as páginas não estava alheio ao que o mundo a seu redor proporcionava...embora ainda estivesse envolta de agitação ali parecia ser o lugar ideal para estar consigo mesma, ter um momento só seu... e foi assim, com instantes de silêncio, uma leitura, um café e um pão de queijo que a menina se sentiu feliz por ter ganhado naquele dia o presente mais inusitado, é verdade, porém, o mais singelo, dando provas mais uma vez que felicidade nem sempre se está nos grandes embrulhos que trazem consigo valiosos presentes, mas sim a encontramos na singeleza de gestos como esses que, por serem pequenos se tornam tão grandes que nos parecem absurdo possuí-los ou entrega-los como presente para alguém... na busca de grandes momentos e coisas esquecemos de nos dar o essencial.