Mal chegara o inverno e já podíamos sentir o frio fazendo
com que nossos corpos ficassem gélidos. Em tempo assim muitas propostas são
irrecusáveis como, por exemplo, um bom chocolate quente, um cappuccino, e lógico, o tradicional filme com pipoca
envolto a muitas cobertas e mantas.... Mas naquela manhã fria o sol acompanhado
da forte cerração colocava diante daquele ser uma nova proposta para passar os
dias frígidos do inverno que ainda não começara.
Como fazia todas as manhãs: costumava sair para caminhar,
uma volta no bosque, um pique troteiro, ainda menino, jovem rapaz, queria
manter a boa forma, estar com o coração alerta. Por mais que em sua cidade a tecnologia já ia avançada, nunca quis por
própria vontade fazer muito uso dela, certa vez até ganhou um desses aparelhos
que reproduzem músicas e tudo mais, porém, na primeira vez que colocou os fones
no ouvido achou que eles pudessem prejudicar sua audição. Menino consciente
sabia que aqueles fones não prejudicariam apenas seu físico, mas o impediria de
ouvir a voz daqueles que o cercam e cotidianamente ensinam através de seus
contos, histórias, gritos e gargalhadas.
Enquanto corria, o cansaço lhe apoderara, seu corpo já
estava quente em dia tão frio, a neblina que encobria o caminho lhe fazia ter
atenção, focando seu olhar ao longe avistou numa praça, não muito longe do
bosque em que se encontrava, um banco. De imediato pensou em descansar um
pouco.Reduzindo a velocidade, deixando o trote ser mais sereno,
aproximou-se do banco, simples, feito à madeira e ferro, com um verniz na
madeira e os ferros pintados em cor preta faziam com que aquele objeto
combinasse com os cacos do mosaico que desenhava todo o chão daquela praça.
Enfim parou a corrida e se sentou no banco. Ali,
esparramou-se por um momento tal qual criança ao chegar cansada do colégio que
se esparrama no sofá da sala enquanto espera a mãe que traz à mão um prato de
comida e um copo de refrigerante. Enquanto revigorava suas forças pode ver ao
longe, mas não tão longe assim, um vulto: seria uma pessoa? Comprimiu os olhos,
como se o ajudasse a focar sua visão, - Sim! Uma pessoa, pensou – percebeu que
os passos daquele que se aproximava eram vagarosos, era um senhor idoso.
Embora andasse devagar chegou com rapidez bem próximo ao
banco. Um senhor já de idade um pouco avançada, cabelo grisalho, barba por
fazer, bengala na mão e olhar profundo. Ele também fazia sua caminhada matinal.
Por graça quis o destino unir os paradoxos para mais uma vez revelar suas
verdades.
O tal senhor também avistara ao longe e sentira o desejo de
sentar-se naquele banco. Chegou bem perto, bem calmo deu uma volta na bengala
de forma que ficasse de costas para o banco, apertou a bengala e deixou que o
peso de seu corpo caísse sobre as pernas sentando-se assim o vovô atleta.
Mal acabara de sentar exclamou: - bom dia meu jovem!
- Bom dia! Respondeu o rapaz, que já logo emendou: fazendo
caminhada? Ao passo que recebeu a resposta: - sim, recomendações de meu
médico!- deixando transparecer um sorriso no canto da boca continuou: - velhos
também se exercitam e precisam fazer isso; tenho uma tia, irmã de minha mãe que
foi campeã, junto com meu tio, de forró lá no baile da terceira idade.
Surpreso o menino exclamou: - que maravilha! O que o senhor
faz da vida?
- já trabalhei muito, hoje sou aposentado. Parou por um
instante, sorriu e disse: quando era jovem, assim como você eu viva pegando
fila para ir aos shows, apresentações de teatro, agora que fiquei velho
continuo a pegar filas e mais filas, mas não são dos artistas preferidos, mas
sim da previdência social. E hoje o que faço da vida é ser feliz.
A conversa caminhava bem, até que o “ser feliz” deixou
inquieto o rapaz. Não se aguentando, perguntou: - o que é felicidade?... O
senhor de cabelos grisalhos olhou para o horizonte viu a mãe com o marido e os
filhos que caminhavam pela praça naquela manhã de domingo e disse: - Felicidade é
aquilo que o tempo nos traz na medida em que aprendemos com tudo aquilo que já
experienciamos na vida... é verdade que ser triste não é estar feliz, mas
talvez haja na felicidade a tristeza, sendo necessário deixar correr uma
lágrima de angústia para experimentar a suavidade de um sorriso...
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