domingo, 21 de junho de 2015

Bartimeu, Jesus e se Paulo Freire voltasse

A intolerância religiosa, a falta de respeito aos seres humanos, falta de respeito às pessoas por aquilo que elas são: gente! Isso tem sido uma chaga de nossa sociedade. Este texto é uma tentativa de refletir o resgate à dignidade da Pessoa a partir de seu 'ser gente'. E, também, tem a intenção de refletir o papel do "evangelizador" na sociedade atual. Boa leitura!

BARTIMEU, JESUS E SE PAULO FREIRE VOLTASSE
(Sobre o respeito à Pessoa Humana)

Diante do texto bíblico do cego Bartimeu (Mc 10, 46-52) nos deparamos com uma realidade muito atual. Cada um de nós podemos nos considerar como o cego Bartimeu. Ao olharmos para esse personagem bíblico enxergamos um homem que perdeu as esperanças. Acostumou-se com sua cegueira. Cego de nascença, mas mendigo por opção (Cf FLORES, Prado. Efata).

O psiquiatra Viktor Frankl desenvolve uma ideia muito interessante em seu livro “A presença ignorada de Deus” diz ele:
“(...) não é o ser humano quem faz a pergunta sobre o sentido da vida, mas, ao contrário, o próprio ser humano é o interrogado, é ele quem deve responder, quem deve dar respostas às eventuais perguntas que sua vida possa lhe colocar. Porém essas respostas serão sempre dadas ‘através de atos’: somente pela ação poderão ser verdadeiramente respondidas as ‘perguntas vitais’. Essas respostas são dadas pela responsabilidade assumida pela nossa existência, em cada situação.”

Bartimeu podia ser melhor, mas não se sentia capaz disso. O respeito da pessoa humana, passa, também, por esse “complexo de Bartimeu”: eu posso, mas não me sinto capaz. O grande educador Paulo Freire dizia sobre um “opressor introjetado”, no qual cada indivíduo traz consigo um pouco de opressor, embora, quando ocupamos uma relação de poder, na qual ganhamos algum status nós repetimos práticas opressoras, ainda que quando oprimidos as rejeitávamos e as considerávamos inadmissíveis. Sendo assim, eu arriscaria dizer, anos depois da gênese do pensamento freiriano, que se há um “opressor introjetado”, há também um “oprimido introjetado” dentro de cada um de nós. E este oprimido introjetado grita por libertação.

Se há sentimentos em comum entre nós seres humanos, um deles é o de nos sentirmos valorizados pelo que somos. E somos todos Pessoa, Gente! Este é o pressuposto para o respeito: olhar para o outro e vê-lo pessoa tanto quanto nós. Independente de sua prática, crença ou etnia.

Retomando o texto bíblico, nos perguntamos quantos ‘Bartimeus’ estão à nossa volta, mas não apenas isso; a pergunta muito mais provocadora é esta: quantas pessoas rotulamos como verdadeiros ‘Bartimeus’ de nossa sociedade? Desta forma, nosso “oprimido introjetado” nos faz ver os outros como pessoas oprimidas também, e neste sentido nosso ser opressor vem à tona, olhamos para o outro na limitação de nosso interior. Quanto mais oprimido nos sentimos mais impedimos a libertação do outro.

Se o pressuposto para o respeito é enxergar o outro como pessoa, o pressuposto para libertar o que está oprimido é ser uma pessoa livre. Só pode ser um instrumento de libertação quem se sente verdadeiramente livre.

Bem por isso Jesus não teve problema algum em mandar chamar Bartimeu. Jesus sentia-se livre (livre de preconceitos, insensibilidade...). Enquanto uma sociedade inteira olhava para aquele homem e o via como um mendigo, como alguém limitado... Jesus olhava para ele e o chamava pelo nome: dando provas de que conhecia sua história e sabia de sua capacidade. A libertação requer saber ser possível um caminho e um modo de agir diferente.

Jesus mostrou a Bartimeu que era possível ele se levantar. Jesus não olhou os rótulos, mas sim valorizou a Pessoa. E ponto. Isto basta! No final do texto bíblico vemos que Bartimeu decidiu seguir Jesus. Num ato livre. Bartimeu, que por muito tempo procurou respostas, com o chamado de Jesus, viu-se capaz de responder as perguntas que a vida lhe proporcionava. E sua resposta não foi palavra, foi atitude!

E aqui, o ponto central desta reflexão: por vezes nossa resposta ao mundo e aos desafios que a vida nos apresenta ficam apenas nas palavras...nas orações bonitas, na hipocrisia de uma fé dissociada da vida concreta. E não raro, temos de ler comentários e gente procurando responder aos desafios com palavras, quase sempre, rasas de argumentação.

Jesus não impõe, Jesus propõe. Por isso “mandou chamar”. Bartimeu vem se quiser...Como se ensinasse aos seus discípulos: a fé não é imposição, não é palavra somente, é atitude de quem evangeliza, é proposta do evangelizador e adesão de quem é evangelizado. O preconceito não é ver o outro como diferente, mas sim, julgar o diferente como inferior.


A resposta que precisamos dar ao mundo atual não é uma resposta que parte de nosso preconceito, mas sim que parte de nosso respeito às pessoas, que parte de nossa liberdade, liberdade que implica sinceridade. Mais que isso, nossa liberdade se demonstra quando temos a coragem de olhar para o outro e vê-lo como alguém capaz, alguém livre; este olhar nos possibilitará apresentar um caminho diferente.


No entanto, é importante sempre termos em mente que levantar e seguir é um ato único e exclusivo de quem receber nossa mensagem. 

#RobsonCaramano
#Coragem

Nenhum comentário:

Postar um comentário