A intolerância religiosa, a falta de respeito aos seres humanos, falta de respeito às pessoas por aquilo que elas são: gente! Isso tem sido uma chaga de nossa sociedade. Este texto é uma tentativa de refletir o resgate à dignidade da Pessoa a partir de seu 'ser gente'. E, também, tem a intenção de refletir o papel do "evangelizador" na sociedade atual. Boa leitura!
BARTIMEU, JESUS E SE PAULO FREIRE VOLTASSE
(Sobre o respeito à Pessoa Humana)
Diante do texto bíblico do cego Bartimeu (Mc 10, 46-52) nos deparamos com
uma realidade muito atual. Cada um de nós podemos nos considerar como o cego
Bartimeu. Ao olharmos para esse personagem bíblico enxergamos um homem que
perdeu as esperanças. Acostumou-se com sua cegueira. Cego de nascença, mas
mendigo por opção (Cf FLORES, Prado. Efata).
O psiquiatra Viktor Frankl desenvolve uma ideia muito interessante em seu
livro “A presença ignorada de Deus”
diz ele:
“(...) não é o ser humano quem faz a pergunta sobre o sentido da vida,
mas, ao contrário, o próprio ser humano é o interrogado, é ele quem deve
responder, quem deve dar respostas às eventuais perguntas que sua vida possa
lhe colocar. Porém essas respostas serão sempre dadas ‘através de atos’:
somente pela ação poderão ser verdadeiramente respondidas as ‘perguntas
vitais’. Essas respostas são dadas pela responsabilidade assumida pela nossa
existência, em cada situação.”
Bartimeu podia ser melhor, mas não se sentia capaz disso. O respeito da pessoa humana, passa,
também, por esse “complexo de Bartimeu”: eu posso, mas não me sinto capaz. O
grande educador Paulo Freire dizia sobre um “opressor introjetado”, no qual
cada indivíduo traz consigo um pouco de opressor, embora, quando ocupamos uma
relação de poder, na qual ganhamos algum status
nós repetimos práticas opressoras, ainda que quando oprimidos as rejeitávamos e
as considerávamos inadmissíveis. Sendo assim, eu arriscaria dizer, anos depois
da gênese do pensamento freiriano, que se há um “opressor introjetado”, há
também um “oprimido introjetado” dentro de cada um de nós. E este oprimido
introjetado grita por libertação.
Se há sentimentos em comum entre nós seres humanos, um deles é o de nos
sentirmos valorizados pelo que somos. E somos todos Pessoa, Gente! Este é o
pressuposto para o respeito: olhar para o outro e vê-lo pessoa tanto quanto nós.
Independente de sua prática, crença ou etnia.
Retomando o texto bíblico, nos perguntamos quantos ‘Bartimeus’ estão à
nossa volta, mas não apenas isso; a pergunta muito mais provocadora é esta:
quantas pessoas rotulamos como verdadeiros ‘Bartimeus’ de nossa sociedade? Desta
forma, nosso “oprimido introjetado” nos faz ver os outros como pessoas oprimidas
também, e neste sentido nosso ser opressor vem à tona, olhamos para o outro na
limitação de nosso interior. Quanto mais oprimido nos sentimos mais impedimos a
libertação do outro.
Se o pressuposto para o respeito é enxergar o outro como pessoa, o
pressuposto para libertar o que está oprimido é ser uma pessoa livre. Só pode
ser um instrumento de libertação quem se sente verdadeiramente livre.
Bem por isso Jesus não teve problema algum em mandar chamar Bartimeu.
Jesus sentia-se livre (livre de preconceitos, insensibilidade...). Enquanto uma
sociedade inteira olhava para aquele homem e o via como um mendigo, como alguém
limitado... Jesus olhava para ele e o chamava pelo nome: dando provas de que
conhecia sua história e sabia de sua capacidade. A libertação requer saber ser
possível um caminho e um modo de agir diferente.
Jesus mostrou a Bartimeu que era possível ele se levantar. Jesus não
olhou os rótulos, mas sim valorizou a Pessoa. E ponto. Isto basta! No final do
texto bíblico vemos que Bartimeu decidiu seguir Jesus. Num ato livre. Bartimeu,
que por muito tempo procurou respostas, com o chamado de Jesus, viu-se capaz de
responder as perguntas que a vida lhe proporcionava. E sua resposta não foi
palavra, foi atitude!
E aqui, o ponto central desta reflexão: por vezes nossa resposta ao mundo
e aos desafios que a vida nos apresenta ficam apenas nas palavras...nas orações
bonitas, na hipocrisia de uma fé dissociada da vida concreta. E não raro, temos
de ler comentários e gente procurando responder aos desafios com palavras,
quase sempre, rasas de argumentação.
Jesus não impõe, Jesus propõe. Por isso “mandou chamar”. Bartimeu vem se quiser...Como se ensinasse aos
seus discípulos: a fé não é imposição, não é palavra somente, é atitude de quem
evangeliza, é proposta do evangelizador e adesão de quem é evangelizado. O
preconceito não é ver o outro como diferente, mas sim, julgar o diferente como
inferior.
A resposta que precisamos dar ao mundo atual não é uma resposta que parte de nosso preconceito, mas sim que parte de nosso respeito às pessoas, que parte de nossa liberdade, liberdade que implica sinceridade. Mais que isso, nossa liberdade se demonstra quando temos a coragem de olhar para o outro e vê-lo como alguém capaz, alguém livre; este olhar nos possibilitará apresentar um caminho diferente.
No entanto, é importante sempre termos em mente que
levantar e seguir é um ato único e exclusivo de quem receber nossa mensagem.
#RobsonCaramano
#Coragem
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#Coragem
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