quarta-feira, 13 de abril de 2011

E vos darei descanso!

Havia alguns gregos, entre os que tinham subido para adorar, durante a festa. Eles aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia e lhe pedriam: "Senhor, queremos ver Jesus!" Filipe vem a André e lho diz; André e Filipe o dizem a Jesus. Jesus lhes responde:
"É chegada a  hora em que será glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto.
Quem Ama sua vida a perde e quem odeia sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, siga-me; e onde estou eu, aí tambpem estará o meu servo.
Se alguém me serve, meu Pai o honrará. (...) É agora o julgamento deste mundo, agora o príncipe deste mundo será lançado abaixo; e, quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim.
(João 12, 20-26. 31-32)
      Nós poderíamos dividir essa passagem em duas partes. Na primeira refletiríamos sobre o fato de que os gregos vão até Filipe e na segunda analisaríamos a resposta de Jesus aos discípulos Filipe e André. Sabemos que se aproximava o dia da Páscoa, os judeus e todo o povo ia a Jerusalém onde poderiam se preparar para bem fazerem a memória da libertação.
      Ir a Jerusalém antes da Páscoa era tradição, mas naquele ano, o trigésimo terceiro de Jesus, havia uma novidade e um motivo a mais para se estar em Jerusalém, e esse motivo era a presença de Jesus.
      A interpretação nos permite concluir que muitos iam ao templo para se prepararem para a festa, no entanto, também, muitos tinham a curiosidade de conhecer esse tal Jesus de Nazaré. Essa conclusão fica muito clara no capítulo 11,56 do Evangelho de João, no qual é narrada essa ida do povo até Jerusalém - “Eles procuravam Jesus”.
      O povo queria fazer uma experiência com aquele que ressuscitou mortos, curou cegos... e então entramos na primeira parte de nossa reflexão: os gregos vão até Filipe para verem Jesus. Filipe é um dos apóstolos que possuía um carisma todo especial, que era levar pessoas a esse encontro com Jesus. Haja visto que fez com Natanael, como vemos em João capítulo 1 versículo 45-46:

Filipe encontra Natanael e lhe diz: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré”. Perguntou-lhe Natanael: “De Nazaré pode sair algo de bom?” Filipe lhe disse: “Vem e vê”.
      Filipe não apenas anunciava, mas, também, quer que as pessoas conheçam Jesus muito de perto. Talvez por isso os gregos o procuraram para que ele mostrasse Jesus. O Papa Bento XVI nos dá uma lição bonita sobre esta suplica dos gregos a Filipe. Diz o Papa:
     

Isto nos ensina a estar sempre dispostos tanto a receber perguntas e inovações de onde quer que venham como a dirigi-las ao Senhor, o único que pode satisfazê-las completamente. É importante, de fato, saber que não somos nós os destinatários últimos das orações dos que nos cercam, mas que é o Senhor: a ele devemos dirigir todo aquele que tem necessidade. Quer dizer, cada um de nós deve ser um caminho aberto para ele. (Audiência geral, 6 de setembro de 2006, praça de São Pedro)
      Uma frase de nossa ‘segunda parte’ complementa essa fala do Papa e, também, nos dá margens para pensarmos agora sobre a resposta de Jesus. Lemos assim no versículo 32: “Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim”. Jesus faz uma profecia: reunir em si toda a humanidade; esse versículo me faz lembrar o versículo 28 do capítulo 11 do Evangelho de Mateus que diz: “Vinde a mim vós que estais cansados e eu vos darei descanso” (Mt 11,28).
      Se por um lado somos convidados a morrer verdadeiramente para aquilo que é pecado em nós, para aquilo que nos impede de chegar a verdade que nos liberta, essa morte pode ser que nos cause tristezas, afinal nos desprenderemos de nossas seguranças, por outo lado o próprio Cristo se apresenta como consolo de nossa ‘morte’.
      Morte aqui neste texto de João simboliza vida, pela morte Jesus revela o amor do Pai, através da morte encontramos a vida eterna. Para que precisamos morrer para gerar mais vida em nós e naqueles que estão em nossa volta? Olhando para Filipe, vendo os gregos que vão até ele para verem Jesus, também podemos nos questionar: quantas pessoas chegam até mim cansadas, angustiadas, precisando conhecer aquele que é o tudo de suas vidas, diante delas como as conduzo para uma experiência com o Ressuscitado?
      Ainda fazendo uso das palavras do Papa encerro esse texto, que não esgota as respostas para as perguntas, mas podem nos dar um caminho para refletirmos ainda mais sobre elas. Diz o Papa:

O objetivo de nossa vida deve ser encontrar Jesus como Filipe o encontrou, tentando ver nele o próprio Deus, o Pai Celeste. Se não fizermos este esforço, só veremos projetada a nossa imagem como um espelho e estaremos cada vez mais sozinhos! Em troca, Filipe nos ensina a deixar-nos conquistar por Jesus, a estar com ele e a convidar também aos outros a compartilhar esta indispensável companhia. E vendo e encontrando a Deus, encontraremos a verdadeira vida.
      Que possamos ter o desejo dos gregos, desejo de conhecer Jesus, a abertura de Filipe para recebermos as pessoas que chegam até nós e as levarmos até o Cristo, e que tenhamos a certeza de Jesus, de que um dia, estaremos na glória coroando assim nossa existência com o prêmio da vida eterna.



FONTE:
- BENTO XVI. Os Apóstolos e os primeiros discipulos de Cristo. Tradução: Gian Bruno Grosso. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.

- BÍBLIA DE JERUSALÉM. Ed. 4. São Paulo: Editora Paulus. 2002.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Chacina no Rio

      O Brasil encontra-se em luto, pois ontem 7 de abril de 2011, cerca de 11 crianças e adolescentes foram assassinados em uma escola na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Se você ainda não está por dentro do acontecido confira a reportagem veiculada pelo Jornal Hoje, da Rede Globo de Televisão clicando aqui.
      Eu sei que este artigo era para ser sobre desilusão, mas os fatos do momento nos levam a um questionamento sobre a realidade das crianças, adolescentes e jovens de nosso país.
      O Ministério da Justiça publicou em fevereiro deste ano um levantamento acerca da violência no meio juvenil, o documento está intitulado como “Mapa da Violência 2011”. Nele podemos perceber que 63% dos jovens do Brasil morrem devido a violência. É um número alarmante e ao mesmo tempo questionador.
      Por que há tanta violência contra nossos jovens? Como temos contribuído para que esse dado possa ser menor? O que teria levado esse rapaz a assassinar tantas crianças e adolescentes no Rio de Janeiro? Por que se assassina alguém?...
      De acordo com testemunhas, Wellington Menezes, autor dos assassinatos na escola do Rio, era uma pessoa que durante sua infância e adolescência não possuía muitos amigos. Por ter um comportamento estranho e um jeito de ser que o diferenciava dos demais estudantes de sua época ele era muito zombado na escola, sobretudo, pelas meninas.
      Talvez esteja aí uns dos porquês de Wellington ter retornado anos mais tarde na mesma escola e, poderíamos dizer assim, vingar-se dos estudantes de lá. Se esse testemunho é verdadeiro podemos classificar toda essa problemática enfrentada por Wellington como o famoso bullying.
      Ele é muito presente nas escolas e acontece quando zombamos de alguém ou até o agredimos porque não aceitamos sua opção sexual, não aceitamos seu modo de se vestir, não aceitamos sua cor, raça. Bullying talvez possa ser tema para um próximo post, mas por hora, isso me faz lembrar uma frase bíblica que diz: Não olhe para o cisco do olho de seu irmão antes de arrancar a trave que há no seu.
      Palavra forte e talvez um tanto que moralista, mas é bem por aí, ao invés de julgarmos as pessoas porque não nos aproximamos delas e tentemos ajuda-las? Se você é cristão, coordenador de grupo de jovens, catequista, integrante de algum grupo ou movimento, como seu grupo tem trabalhado com as diferenças?
      É triste chegar a tal conclusão, mas muitas vezes temos belas palavras em nossas reflexões, em nossos grupos, mas elas ficam presas nas quatro paredes de nossas Igrejas ou locais de reunião. Isso nos impede de abrirmo-nos ao diferente. E como acolhê-lo? Mostrando-o que ele é importante para a Igreja, para a sociedade, para a comunidade. Fazer com que ele se sinta alguém. Todo jovem, ou quase todos, querem ser notados, querem por a mão na massa, falta-lhes quem lhes dê espaço.
     Sabemos que somente oração não ajuda é necessário também obras. (cf São Tiago 2,17) Essas obras nem sempre passam apenas por uma boa direção espiritual, mas também devem conduzir o jovem, o adolescente, a criança, para um acompanhamento profissional no âmbito psicológico, psiquiátrico e ciências afins.
      Às famílias das vítimas do Rio ofereço minhas orações, bem como peço a você querido leitor (a) que reze por eles, mas que também faça algo para que outras cenas como esta não se repitam em nosso país, em nosso mundo. Ame mais, acolha mais!
Fontes:
Sagrada Escritura
Mapa da Violência 2011