quarta-feira, 31 de agosto de 2011

É preciso ouvir a voz de Cristo

Terceiro dia de Jornada. Dormir no chão nunca foi muito confortável, mas diante do cansaço da caminhada o chão começava a ser uma cama maravilhosa. Porém, mais um dia começava, era preciso agilidade para arrumar as coisas, tomar um café e se colocar a caminho para a catequese. O que eram essas catequeses? Toda manhã, das 10h até às 13h um bispo ministrava essa catequese, que era uma formação de aproximadamente uma hora, depois ouvíamos um testemunho de algum jovem e fechávamos esse momento com a celebração da Eucaristia.
Aquela foi minha primeira catequese na Jornada, quando chegamos na Igreja havia muitos brasileiros, portugueses e alguns africanos. O pregador daquela catequese foi Dom Eduardo Pinheiro, Bispo Auxiliar de Campo Grande, Mato Grosso do Sul e responsável pelo Setor Juventude no Brasil, e como foram úteis suas palavras. Sua grande preocupação foi mostrar que os jovens de hoje estão como que surdos para a voz de Jesus, uma vez que sua voz se misturou com tantas outras vozes.
E aprendi ali que não ouvir a voz de Jesus é não saber que rumo tomar. As muitas vozes do mundo têm escravizado nossa juventude impedindo-a de viver na liberdade e na verdade. Talvez você se pergunte: e que vozes são essas? E eu me lembro como se fosse agora Dom Eduardo dizendo com autoridade que as vozes do mundo atual são: o hedonismo, ou seja, a vivência do prazer pelo prazer, que tem ferido a sexualidade e afetividade de muitos jovens; o consumismo: que descarta o sentimento e gera a esperança de que amanhã terá algo melhor, e assim, vivemos numa sociedade do descartável, e um descartável que se aplica não só aos bens materiais, mas também às relações humanas; o subjetivismo: uma afirmação exagerada do EU que nega o OUTRO; e por fim, o relativismo: que cultiva em nossa mente o pensamento de que tudo é normal, nada é proibido.
Diante desse mundo, nós jovens somos chamados a fazermos escolhas, precisamos pensar em nosso futuro, dizia-nos o bispo que “os jovens por não terem perspectiva de futuro apostam todas as suas fichas no agora”, assim, é necessário e urgente haver um apaixonamento por Jesus e então, uma vez enraizado e firme Nele, pela fé, somos capazes de construir nosso projeto de vida.
O nosso projeto de vida precisa ser construído sobre algo concreto, não podemos apenas ouvir a voz do mundo que grita e pede que vivamos apenas do agora, temos um futuro e precisamos pensar nele. Precisamos fazer escolhas certas para não termos decepções demasiadas. Qual é nosso projeto de vida? Será que ele está se sustentando em algo sólido?
Encerro citando o ponto 60 do documento para a Evangelização da Juventude que diz: “O desafio para o jovem – assim como para todos que aceitam Jesus como caminho – é escutar a voz de Cristo em meio a tantas outras vozes. O Jovem escuta a voz do Mestre de diferentes maneiras. A ação evangelizadora deve ajudá-lo a ter contato pessoal com Jesus Cristo nos evangelhos, por meio de sua mensagem, suas atitudes, sua maneira de tratar as pessoas, sua coragem profética e a coerência entre seu discurso e sua vida. Os Evangelhos assinalam com freqüência que Jesus rezava e passava horas e noites em oração diante do Pai. As celebrações e a oração são espaços importantes onde este encontro pessoal acontece e é aprofundado, no silêncio e na contemplação. O jovem encontra o Senhor na leitura dos evangelhos e na vida comunitária, na qual aprende a escutar a voz de Deus no meio das circunstâncias próprias de nosso tempo, vivenciando assim o mistério da Encarnação”

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

'Eu vos chamo amigos'

(olá amigos (as)! Apartir de hoje você poderá conferir algumas reflexões e textos que escrevi durante a Jornada Mundial da Juventude em Madrid, espero que goste!)

Quando amamos os jovens eles retribuem com muito mais amor. Um dia antes de partir para Madrid, notei que havia algumas notificações numa das minhas contas de rede social. Ao conferir, meus olhos se encheram de lágrimas, fiquei emocionado por ver inúmeras orações que os jovens postaram pedindo a Deus que essa fosse uma viagem abençoada e que eu pudesse representá-los bem.
Às vezes é difícil para nós compreendermos o chamado divino. Sempre gostei muito de viajar, mas nunca pensei que um dia iria para tão longe. E ainda, ter essa responsabilidade de representar tantos jovens. Durante os dias que antecederam a viagem muitos diziam: estou feliz por você estar lá e por nos representar.
Hoje parando pra pensar, vejo que a Igreja carece de homens e mulheres que tenham a coragem de dar a vida pela juventude. Parafraseando Dom Bosco: os jovens mais do que serem entendido, precisam ser acolhidos e mais do que serem acolhidos, precisam ser amados.
Só é possível evangelizar se antes se aprende a amar. Por isso para que a evangelização de nossos jovens seja eficaz, não é preciso falar, e falar e falar de Jesus, mas sim é preciso ser Jesus para eles. Se queremos jovens mais perto de Deus é preciso sermos Cristo para eles. A isso eu chamaria “Pedagogia da Evangelização para os jovens”. No que consiste essa pedagogia? Em amar, em ser Cristo. E sobretudo, em ser amigo (a) das juventudes que passam pela nossa vida.
E ser amigo é estar junto, é conhecer... e então, no momento em que essa amizade estiver fortalecida, poderemos partilhar dificuldades da vida... e eis a porta para que iluminado (a) pelo Espírito Santo, fundamentado (a) na Sagrada Escritura e na Tradição, poderemos aconselhar, conduzir, e ajudar esse amigo, esse jovem que sofre.
O importante não é termos títulos como o de catequista, assessor, coordenador de grupo de jovem, se não formos amigos daqueles que Deus nos confia, nosso trabalho é em vão! E talvez por isso nessa jornada o Papa, em seus discursos, quando ia se dirigir aos jovens dizia: queridos jovens e amigos, ou então, por diversas vezes disse apenas: queridos amigos... ao ouvir essa palavra da boca do Santo Padre, nosso coração se enchia de orgulho e nos conduzia e nos convidava a uma maior experiência com Jesus, vivo e ressuscitado, afinal, não era qualquer um que nos falava de Jesus, nem mesmo era o PAPA, mas sim um amigo, que quer nosso bem e nos ensinava, falava-nos de quem era o verdadeiro caminho, verdade e vida.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A moça e a água

Vejo-me sentado diante de um jardim, questionando-me sobre a vida, sobre o que já vivi e o tanto que ainda tenho de viver...Acabei de encerrar mais uma missão, aguardo ansioso, pois dentro de algumas horas estarei em São Paulo, lugar no qual me encontrarei com um grupo de missionários para uma nova missão. Ainda que o cansaço seja presente, tenho a consciência de que ele não é tudo, bem como se torna um instrumento de sabedoria para mim. Mas como assim? O cansaço me ensina algo? Sim. Toda vez que nos cansamos, paramos exaustos, e dentro de nós há um grito: caaaama! E então... Ao pararmos para descansar, surge uma questão: valeu a pena o que fiz? Quando essa pergunta não surge, então nosso cansaço é em vão.
A medida que descansamos, repomos as nossas forças físicas, mas se não avaliamos o motivo de nosso cansaço, no interior podemos permanecer exaustos, mesmo que nosso físico esteja bem.
Refletia eu, então, sobre isso quando ao meu redor aconteceu um fato corriqueiro, mas ao mesmo tempo inusitado. Enquanto eu escrevia esse texto me perguntava: mais uma missão! Como terei forças?... Contemplando o horizonte, vi uma jovem com um olhar decidido, ela tinha uma meta, em passos apressados dirigia-se ao bebedouro, no corre-corre colocou a caneca na torneira e ao abri-la notou que o galão de água estava vazio. Uma amiga sua que acompanhava a cena sentiu pena e exclamou: ah! Como você vai matar a sede agora? E eis que nesse momento, uma das cenas mais bonitas, do dia de hoje, meus olhos puderam presenciar: a jovem com sede agarrou com as duas mãos o galão e tirando-o do suporte o levou para onde iria colocar água novamente, enquanto fazia isso disse: basta enchê-lo!
Eis a resposta! Para continuar a luta é preciso reabastecer. Mas atenção: a jovem não queria refrigerante, nem tampouco suco, e sim água, e água limpa que iria saciar a sua sede e revigorar suas forças.Diante do cansaço que a vida nos proporciona somos chamados a querer beber desta água limpa, mas infelizmente paramos pouco para descansar, ou seja, paramos pouco para refletir sobre nossa vida, não vemos o que está valendo a pena e o que não está. Por conta disso não vamos mais atrás de águas novas, mas sim bebemos aquilo que nos oferecem e que nem sempre é uma água límpida.
Diante de tudo isso, somos convidados a refletir: o nosso cansaço tem valido a pena, tem sido descanso para outros? Estamos buscando reanimar nossa vida, saciando a sede da nossa alma com a água viva que somente Jesus nos pode dar? Temos tido a coragem que essa moça teve de não nos satisfazermos com as situações da ausência de água, mas sim, indo além de nossas forças para buscar água na fonte, água pra nós e para outros? Enfim, muitas perguntas e outras tantas respostas, contudo, não tenhamos medo de nos cansar, de nos consumirmos e saciemos nossas sedes na fonte límpida.