segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Jovem: uma pedra de tropeço?

Muito me preocupo com a evangelização de nossos jovens. Já nos dizia o Papa Bento XVI, em sua visita ao Brasil: “eles estão como ovelhas sem pastores”, eles precisam encontrar em nossas comunidades um espaço para manifestar aquilo que pensam e colocar ali, em comum, seus sonhos, projetos, enfim, sua criatividade.
Falo isso por experiência própria. O jovem encontra na comunidade a família que talvez ele não tenha em casa, o amigo que ele não tem na vida, daí a importância de o tratarmos bem, entendendo-o e ajudando no que for preciso para que ele encontre um caminho seguro.
Estou ciente das dificuldades que se encontram ao se trabalhar com a juventude. Às vezes, decepcionamo-nos muito, mas eles também possuem o direito de errar – cabe a nós ajudar e fazê-los fugir do erro. Foi pensando nessa dificuldade de evangelizá-los que resolvi escrever este artigo e relatar nele um sonho de Dom Bosco, pai e mestre da juventude. Espero que este sonho lhe ajude na orientação dos jovens de sua comunidade.
Sonho de Dom Bosco entre 1871 e 1872, retirado do livro “Dom Bosco”, de Terésio Bosco, editora Salesiana:
"Pareceu-me estar numa região selvagem, totalmente desconhecida. Era uma planície imensa, inculta. Nela não se viam nem montes, nem colinas. Nas longínquas extremidades, porém, erguiam-se montanhas fragosas. Vi turbas de homens que a percorriam. Estavam quase nus. Sua estatura era extraordinária e o seu aspecto, feroz. Tinham cabelos hirsutos, longos, bronzeados, escuros. Vestiam apenas folgados mantos de peles de animais, que lhes desciam nos ombros. Por armas usavam uma lança comprida e funda.
Essas tribos dispersas ofereciam aos olhares cenas variadas: uns corriam dando caça às feras; outros caminhavam levando, enfiada na ponta das lanças, carne a sangrar. Uns lutavam entre si; outros com soldados vestidos à europeia. O chão estava semeado de cadáveres. Àquele espetáculo eu fremia...
Senão quando surgem da extremidade da planície muitas pessoas: pelo modo de vestir e de agir compreendi que eram missionários de várias Ordens. Vinham para pregar aos selvagens a religião de Jesus Cristo. Fixei-os atentamente, mas não reconheci ninguém. Foram para o meio daquela gente, mas os bárbaros, apenas os viram, lançaram-se contra eles e os mataram, espetando os macabros troféus na ponta de suas longas lanças.
Depois de ver aquelas cenas terríveis, pensei comigo mesmo: “Como fazer para converter essa gente tão brutal?
Nesse instante, vi ao longe um grupinho de outros missionários que se aproximavam alegremente dos selvagens, precedidos de multidão de jovens. Eu tremia pensando: ‘essa gente quer morrer!’. Aproximei-me deles. Eram padres e clérigos. Olhei-os com atenção, e vi que eram nossos salesianos. Aos primeiros eu conhecia. E, embora não pudesse reconhecer pessoalmente muitos dos que lhe vinham depois, tive certeza absoluta de que também eles eram missionários salesianos.
‘Como possível?’, pensei comigo mesmo. Quisera não prosseguissem. E estava ali para detê-los: temia que, de repente, lhes coubesse a mesma sorte que aos primeiros missionários. Mas notei que a sua presença causava alegria a todas aquelas tribos de bárbaros. De fato, abaixaram as armas. Depuseram toda a ferocidade. Acolheram os nossos com todas as demonstrações de cortesia. Maravilhado, dizia comigo: ‘Vamos ver como tudo isso vai acabar!’. Vi que os nossos missionários se aproximavam daqueles selvagens, os instruíam: e eles ouviam com prazer a sua palavra. Ensinavam e eles aprendiam com interesse. Admoestavam e eles aceitavam e punham em prática suas admoestações.
Quedei-me a observar: os missionários recitavam o Terço e os selvagens o rezavam com eles. Instantes depois, os salesianos foram para o meio da turba, que os rodeou. Ajoelharam-se e os selvagens, depostas as armas, também se ajoelharam. E eis que um dos salesianos entoou o canto: Laudate Maria, o lingue fedeli (louvai a Maria, ó línguas fiéis) e todas aquelas turbas a uma só voz, continuaram o canto com tanta força que eu, meio espantado, acordei."

Anos mais tarde, Dom Bosco teve a confirmação de seu sonho concretizando-o na América do Sul.
Caríssimos, ao ler esse sonho pude sonhar com uma evangelização possível aos jovens de nossas comunidades. Muitas vezes, são eles os selvagens, duros, incrédulos, entregues a tantos outros deuses. Cabe a nós imitarmos os passos de Dom Bosco, sua alegria, seu amor pela juventude, pois, só assim, iremos saber ouvir a nossa juventude e também conseguiremos ser amigos dos jovens. Somente desta maneira, acredito eu, através da amizade, podemos evangelizar nossa juventude. Reflita mais sobre esse sonho de Dom Bosco. Tenho certeza que encontrará um meio de evangelizar os inúmeros jovens que ainda estão entregues às drogas, vícios, ou seja, a uma vida ao léu. Mais do que falar do Evangelho é preciso sê-lo aos jovens.
''Que os jovens não sejam amados, mas que eles próprios saibam que são amados...
Que, sendo amados nas coisas que lhes agradam, aprendam a ver o amor nas coisas que naturalmente pouco lhes agradam...'' (São João Bosco)
Rogo a intercessão de Dom Bosco e de Maria Santíssima sobre nossos jovens. Que a intercessão chegue ao coração de Jesus, derramando sobre nossas juventudes alegria verdadeira e discernimento, para seguirem os caminhos do Senhor.
Robson Luiz Caramano de Camargo